“Sempre que penso em Abdias Nascimento o sentimento que me toma é de gratidão aos nossos deuses por sua longa vida e por sua extraordinária história, fonte de inspiração de todas as nossas lutas e emblema de nossa força e de nossa dignidade.A história política e a reflexão de Abdias Nascimento se inserem no patrimônio político cultural pan-africanista repleto de contribuição para compreensão e para a superação dos fatores que vêm historicamente subjugando os povos africanos e sua diáspora.”
“O Griot e as muralhas”
Éle Semog / Abdias Nascimento
O Griot Abdias viveu quase 100 anos. Viveu no sentido literal da palavra porque deixou sua marca na história do Brasil, através de uma luta qualificada, digna e com profundo respeito a todos que compartilhavam, ou não, de suas idéias e convicções.
A sua origem não é humilde, apesar dos poucos recursos financeiros de sua família. A sua origem lhe proporcionou a práxis necessária para refletir o país e a discriminação racial em todas as suas vertentes, territórios e comunidades, práxis essa enriquecida pela sua militância constante desde o engajamento na Frente Negra Brasileira, em 1930, quando lutava contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade, onde organizou o Congresso Afro-Campineiro em 1938.
Em 1944 cria o Teatro Experimental do Negro, entidade que patrocinou a Convenção Nacional do Negro em 1945-46, convenção essa que propunha a inclusão de políticas públicas para a população afrodescendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria à Assembléia Nacional Constituinte de 1946. Ainda no TEM organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950.
Sua militância e poder de agregar e influir sobre a política brasileira fez com que, durante a ditadura, ficasse no exílio. Nesse período atuou na criação do PDT, partido onde cria em 1981 a Secretaria do Movimento Negro.
Como primeiro deputado federal afrobrasileiro, com mandato (1983-87) dedicado à luta contra o racismo, apresentou projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991, 1996-99), continua nessa linha de atuação.
O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afrobrasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, é nomeado primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos (1999-2000).